Prefeitura suspende volta as aulas por uma semana, mas profissionais dizem não ser suficiente; Saúde teme colapso

Paula Cabrera

A Prefeitura de Mauá  adiou o retorno das aulas nas escolas estaduais para o dia 8 de março - uma semana após a previsão inicial, que era da próxima segunda (1/3). O anúncio vem na esteira de infecção de mais de 60 professores e funcionários de 17 escolas estaduais da cidade. Boa parte dos diagnósticos registrados nesta quinta-feira (25/2) durante testagem em massa feita em escolas municipais do município. Os colégios chegaram a registrar aglomerações durante todo o dia para os testes.
A Apeoesp (Sindicato dos Professores), já se mobilizava para pedir a suspensão do retorno quando o novo decreto municipal do prefeito Marcelo Oliveira (PT) sobre o lockdown noturno foi publicado no final da tarde. "Aula nas escolas estaduais localizadas em Mauá somente após 8 de março. Continuamos lutando por um retorno somente com segurança sanitária", disse o conselheiro estadual  da Apeoesp, André Sapanos. Ele defende que será necessário um espaço ainda maior de tempo antes do retorno. "Não há segurança nesse retorno. O que vimos nessa testagem hoje deixou isso muito claro. Foram 17 escolas de 104 na microrregião. O número total deve ser muito maior", afirmou Sapanos.


Na região do Jardim Feital, duas escolas registram juntas 28 professores e funcionários com Covid-19. Jardim  Cruzeiro teria 16 resultados positivos, já a Clotilde Álvares Doratiotto, teria mais 12, no mínimo. As informações, no entanto,  mudam em tempo real em grupo de whatsapp dos servidores estaduais. A informação oficial  só deverá  ser divulgada nesta sexta-feira (26/2).
A orientação da Secretaria de Ensino também foi bastante discutida no grupo: afastar profissionais positivos e abrir escolas. "Esse decreto da Prefeitura é fundamental para garantir a segurança dos profissionais de Educação. Também reivindicamos a fiscalização da Vigilância Sanitária nessas escolas. Uma união do Estado e do município para garantir sanitização dos espaços é fundamental. Os números demonstram que não existem condições para o retorno presencial.", disse Sapanos.
O JNC entrou em contato com a Secretaria Estadual de Educação, que informou ter sido notificada sobre a situação de Mauá, mas negou que a contaminação tenha sido tão alta. O Estado alega que foram 11 resultados positivos e que o atendimento foi feito para profissionais do município e do Estado. Professores presentes no local negaram e a Saúde municipal confirmou que apenas professores do Estado foram atendidos e por horário marcado. "Alguns professores se adiantaram ao agendamento e isso motivou a fila", dizia a nota.
O alto número de infecções- que teriam ocorrido com o retorno presencial dos professores nesta semana- acendeu o sinal de alerta na Saúde Municipal.
Profissionais da Secretaria de Saúde dizem que essa reabertura vai colapsar o sistema municipal. "Não é uma questão de se vai, mas sim DE QUANDO vai", disse o servidor, que preferiu não ser identificado. O medo da ocupação máxima de leitos é geral. Todo o ABC tem registrado aumento nas internações, com taxa média de 90% tanto nos leitos públicos quanto privados. Para piorar, o tempo médio que era de até 14 dias de internação subiu para 21. "Não haverá opção de transferência porque todo o Estado estará sobrecarregado. É uma situação limite e nunca vivida em São Paulo", disse a fonte ao JNC.

São Caetano também registra alta contaminação

Além de Mauá, a volta às aulas nas escolas municipais de São Caetano já sobrecarrega o sistema de saúde. Pelo menos 43 profissionais testaram positivo desde o retorno das aulas há duas semanas. A cidade tem mais de 70% dos leitos ocupados na rede pública e quase 90% na rede particular.

Confira nota da Secretaria de Educação de SP:

A Secretaria da Educação do Estado de São Paulo (Seduc-SP) esclarece que todas as unidades seguem os protocolos das autoridades da área da saúde e estão em funcionamento, garantindo a segurança de professores, servidores e alunos.
A testagem ocorrida nesta quinta-feira (25) foi feita pela Vigilância do município, e envolveu profissionais da educação pública municipal e estadual. Reiteramos que as listas divulgadas pelo sindicato possuem, por diversas vezes, informações inconsistentes. Inclusive já há manifestações públicas de membros da Apeoesp se retratando pelos dados equivocados. Entre os profissionais da educação estadual que realizaram a testagem rápida, 11 apresentaram resultado positivo e foram afastados de suas atividades, por orientação da própria vigilância.
A pasta ressalta que os casos confirmados de servidores e alunos são acompanhados por meio do SIMED (Sistema de Informação e Monitoramento da Educação para COVID-19) da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo.