Família e amigos organizam mobilização para pedir que o motorista seja julgado por um júri popular
Um ano depois da morte da ciclista Marina Kohler Harkot, atropelada pelo empresário José Maria da Costa Júnior, a primeira audiência do caso será realizada. As testemunhas serão ouvidas na próxima quarta-feira (24/11), às 13h30, no Fórum da Barra Funda, em São Paulo. Ciclistas, amigos e familiares de Marina farão uma mobilização na frente do Fórum para pedir que Costa Júnior seja julgado por um júri popular. As informações colhidas servirão de insumos a juíza definir se o julgamento do motorista será ou não com júri popular.
Indícios documentais e testemunhais reunidos pela Secretaria de Segurança Pública apontam que Costa Júnior estava embriagado e transitava em alta velocidade pela Zona Oeste de São Paulo, quando atropelou Marina e não prestou socorro. Ele responde por homicídio doloso qualificado por dirigir sob efeito de álcool. “Dirigir bêbado, atropelar uma ciclista e não socorrer, não é acidente. É crime. A sociedade precisa ter o direito de participar desse julgamento, que não diz respeito apenas a Marina, mas também às centenas de ciclistas que perdem suas vidas, mutilados ou feridos, todos os anos. Não quero que mais nenhuma outra mãe experimente essa dor dilacerante que é perder uma filha dessa forma”, diz Maria Claudia Kohler, mãe de Marina.
O júri popular é formado por pessoas que não têm formação em Direito e representam a sociedade em geral. Nesse sistema, quem condena o acusado são os jurados, e não o juiz. Ele é formado apenas em casos de crimes dolosos (em que houve intenção de matar). No caso da Marina, a juíza vai analisar os depoimentos das testemunhas, documentos e provas para avaliar se houve dolo. Só então será definido que o júri será popular. “A expectativa é que, ao final da primeira fase, a juíza entenda pela presença de elementos que indiquem dolo, já que todas as circunstâncias dos fatos deixam patente a ocorrência de homicídio doloso”, diz Priscila Pamela Santos, advogada da família.
Se o crime for considerado culposo, a pena será de 5 a 8 anos de prisão e cabe regime semiaberto. Já no caso de ser qualificado como doloso a condenação pode chegar até 30 anos de prisão e inicia em regime fechado.
Sobre Marina – O dia 7 de novembro de 2020 foi um dia especial para Marina. Depois de quase um ano isolada pela pandemia, ela resolveu encontrar algumas pessoas. Foi correr com uma amiga de infância pela manhã, almoçou com o marido e à noite foi encontrar outras duas amigas. A noite falou com a mãe por telefone, o que era sempre frequente. Disse que ligaria mais tarde, pois estava na casa de uma amiga. Já era quase meia noite quando Marina se despediu. Soltou a última gargalhada, pegou sua bicicleta e foi embora, mas não chegou em casa. A vida de Marina foi trágica e brutalmente interrompida na avenida Paulo VI, no bairro de Pinheiros, por um irresponsável motorista embriagado.
Ela era uma ciclista experiente e bastante cuidadosa. A bicicleta era uma paixão, um meio de transporte e uma causa. Socióloga pela USP, cursou mestrado na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU/USP), onde defendeu a dissertação “A bicicleta e as mulheres: mobilidade ativa, gênero e desigualdades socioterritoriais em São Paulo”. Marina estava fazendo doutorado e atuava como pesquisadora do Laboratório Espaço Público e Direito à Cidade (LabCidade), Ciclo Cidade e outros espaços de ativismo e articulações pelo direito a cidade. A sua contribuição acadêmica apesar de curta foi tão relevante que ela ganhou uma sala de Estudos Interdisciplinares na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP com seu nome.
Marina tinha apenas 28 anos e uma infinidade de sonhos interrompidos.