Em semana em que educadores, prefeituras, governo do Estado e polícias buscam normalidade, deputado estadual vai na contramão e afirma que escolas não são seguras

O ex-prefeito de Mauá Atila Jacomussi (SD) resolveu ir na contramão tomada pelas polícias e governos e gravou um vídeo promovendo o caos e o terror nos pais do município. Em uma semana desafiadora para educadores e famílias, além de polícias e prefeituras, Atila achou que seria bom afirmar que as escolas da cidade não estariam seguras e pedir a suspensão das aulas no município.
Há cerca de duas semanas, essa repórter tem acompanhado, incansavelmente, encontros para debater a segurança nos sete municípios e, como nota da redação, gostaria de deixar claro que Atila não participou de nenhuma dessas discussões. Nem com outros deputados, via Consórcio Intermunicipal, nem no encontro entre Polícias e Diretoria Regional de Ensino, em Ribeirão Pires, muito menos nos encontros promovidos pela Prefeitura de Mauá com escolas estaduais, municipais e particulares. Atila também não estava presente na visita feita pelo governador Tarcísio à escola Thomazia Montoro, quando o governador falou das ações tomadas para aumentar seguranças nas escolas estaduais.
O pedido esdrúxulo, que parece estar apoiado apenas na decisão do parlamentar de fazer oposição ao prefeito Marcelo Oliveira (PT), irritou diretamente professores, diretores e boa parte do setor de educação que tem sido incansável para trazer calma em um cenário de caos provocado pelas fake news que inundam grupos do WhatsApp. "Para de querer tumultuar, causar pânico. Você como deputado eleito da nossa cidade deveria era estar ajudando a solucionar os problemas, mas está mais preocupado em fazer oposição ao atual governo e causar pânico. Ainda não começou a época de campanha eleitoral, não", respondeu Luan Rodrigues ao vídeo publicado por Atila.

Outra mãe questiona ainda o fato de Atila não se preocupar com boa parte das mães que precisam deixar os filhos nas escolas para trabalhar. "Mais fácil suspender as aulas do que colocar policiamento nas escolas. Só por deus. E as mães que trabalham fazem o quê com os filhos" alfinetou Thais Paula, no grupo de mães da escola Maria Wanny.
O JNC apurou ainda que boa parte dos policiais responsáveis pela região não gostou nada da publicação do ex-prefeito. Há uma crescente de desinformação que afirma que são esperados possíveis ataques pelos 24 anos do massacre de Colombine, no dia 20 deste mês. No entanto, as forças policiais tem se desdobrado para rastrear informações na chamada deep web e para tentar mostrar normalidade aos pais. Nesta última semana, a PM de São Paulo atualizou o app do 190 para permitir que um botão de chamar auxílio para escolas fosse incluído. As GCMs, a Polícia Militar e a Polícia Civil aumentaram efetivo na rua e revogaram folgas para aumentar o patrulhamento no entorno das escolas e Mauá, por exemplo, disponibilizou telefone específico para denúncias, além de ter mostrado que o videomonitoramento é uma realidade nas 44 escolas da cidade, assim como o botão do pânico. Mesmo as escolas privadas ganharam respaldo com aproximação do vizinhança solidária e o telefone de contato direto com o município para o patrulhamento da GCM.

Nas últimas semanas, mesmo a mídia entrou em acordo para não divulgar ocorrências nas escolas, todas motivadas pelo pânico crescente de um possível ataque. Em todos os casos, a Polícia Militar e as escolas agiram prontamente e deixaram claro que a histeria era o motivador principal de cada pequeno caso registrado. Assim, um acordo tácito foi selado entre portais: enquanto a segurança das crianças estiver mantida e não houver motivação de crime, os casos não seriam divulgados. A polícia deixou claro ainda que as ocorrências eram motivada por brincadeiras fora de hora --exatamente para trazer a suspensão das aulas -- ou por medo dos alunos.
Um deputado estadual utilizar esse medo como fórmula eleitoral, é para o dirigente regional da Apeoesp, André Sapanos, um absurdo. "Estou surpreso com a decisão do deputado estadual Atila Jacomussi levar para as mídias sociais um vídeo pedindo a suspensão das aulas. O ideal é exatamente o contrário. Ele deveria enviar projetos, criar leis para garantir o bom andamento das unidades educacionais. Garantir que os pais, estudantes e professores, como um todo, se sentissem seguros e pudessem trabalhar. Quando um deputado faz isso, ele gera insegurança em toda a rede. Ele até ganha uma parte dos pais que já estão inseguros, exatamente por toda essa situação que já está acontecendo. E o papel do deputado é exatamente o contrário. É provar que a rede estadual, municipal de ensino são seguras para receber os alunos. Eu gostaria de saber o que o nobre deputado sugeriu como aprovação de lei para que as escolas continuassem em funcionamento, para que pais e mães se sentissem seguros. Suspender as aulas não resolve o problema. Pelo contrário, porque esses pais precisam trabalhar e com quem esses pais vão deixar os seus filhos?", conclui.