Relatório do TCE coloca cidade a frente apenas de Rio Grande da Serra que tem população quase dez vezes menor

Paula Cabrera

Mauá é uma das cidades que menos realizou testes de covid-19 no ABC. A informação é de relatório do TCE (Tribunal de Contas do Estado) que aponta que em até junho, a cidade havia feito apenas 1.554 exames, número que a coloca a frente apenas de Rio Grande da Serra, que fez 1.283 testes. Em proporção ao total de habitantes, no entanto, Mauá está bem atrás nos números, já que possui 472.912 moradores contra 50.846 da cidade vizinha.
Segundo o TCE, além de ficar bem atrás no número de testagem, Mauá foi uma das cidades que menos investiu para controlar a pandemia. A administração do prefeito Atila Jacomussi (PSB) empregou apenas R$ 16,5 milhões para controlar a doença, ficando a frente apenas dos gastos de Ribeirão Pires, que investiu $ 4,12 milhões e Rio Grande, com total empregado de R$ 1,08 milhões.
Vale lembrar que apenas o hospital de campanha de Mauá teve verba total de R$ 4 milhões pelo período de três meses. O espaço foi inaugurado com a promessa de ser pioneiro no ABC no tratamento ao covid, com ampla testagem, laboratório próprio e funcionamento de portas abertas. Na prática, no entanto, as denúncias de dificuldade para conseguir fazer o teste seguem ganhando as mídias sociais.
Na semana passada, Vanessa Lopes da Silva Moraes, de 32 anos, disse que foi uma das pacientes que saíram do Hospital de campanha sem conseguir realizar o exame, mesmo tendo vários sintomas, como perda do paladar e febre de 39 graus. "Estive lá e parecia que a médica me fazia um favor. Tinha muita gente esperando e só duas médicas atendendo, mesmo assim, elas paravam para papear e falar sobre preço de manicure enquanto a gente esperava. Quando me chamaram, ela mal me olhou, não quis fazer o teste e me mandou para casa sem nem me ouvir. Isso foi quinta, na sexta, minha filha acordou com muita febre, dor de cabeça e dor na barriga e está ruim desde então. É um absurdo", conta ela.
Vanessa confirma ainda a informação de bastidores, apurada há semanas pelo JNC, que apenas pacientes com indicação direta de alguém consegue realizar o exame. "Depois que coloquei o assunto no meu Facebook recebi diversas ligações, uma delas do Amarildo, que se identificou como assessor do prefeito, e disse que eu poderia realizar o teste. Fui lá na sexta e consegui fazer, deu negativo, mas daí a médica explicou que existe uma janela para a realização do teste, que deve ser, preferencialmente, no 11° dia de sintomas. Pediu que eu voltasse nesta sexta para repetir o exame", conta ela, que fez o teste de ponta de dedo, conhecido como testagem rápida.
O JNC já abordou a dificuldade na testagem no hospital de campanha em diferentes ocasiões. A situação chegou a ser questionada pelo MP (Ministério Público) que confirmou ao jornal que recebeu da Prefeitura a informação de que casos em que o teste rápido não surtiria efeito- como no caso de Vanessa- eram submetidos a outros tipos de exame, como o swab (exame de cotonete no nariz) ou mesmo testagem sanguínea. Na prática, no entanto, a informação não é a que chega de quem procura os serviços de Saúde da cidade.
Procurada, a Prefeitura de Mauá não se pronunciou sobre o assunto.

Outras cidades
O relatório do TCE aponta que Santo André é a cidade com maior número de exames realizados, foram 60.638 até o final de junho, com investimento de R$ 62,6 milhões no combate à pandemia, o segundo maior no ABC. São Caetano aparece na sequência em testes com 37.628 testes e investimento de R$ 42,05 milhões.
São Bernardo aparece em terceiro na realização de testes, com 37.475, e o maior investimento, R$ 73,05 milhões.
Diadema, que tem população semelhante a de Mauá fez 7.354 testes e investiu R$ 43,04 milhões. Ribeirão Pires aparece em 5° lugar, com 3.609 testes e o sexto maior investimento, com R$ 4,12 milhões.

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