Victor Metta esteve no Ministério da Educação por um ano e meio e diz que estrutura federal compromete seriamente investimentos na área

O advogado tributarista, Victor Sarfatis Metta, já tinha uma carreira estruturada na área do direito tributário quando decidiu, em 2015, se embrenhar na militância política. Ele esteve lado à lado com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) nos últimos anos e é taxativo em dizer que a burocracia federal impede diretamente mudanças necessárias no país.

Com um dos escritórios mais famosos do estado de São Paulo e estudioso da nova direita, defensor do Estado mínimo e de uma reforma tributária, ele conta ter conhecido o presidente em um jantar de empresários e ter se interessado no modelo político apresentado pelo então deputado para um novo país.

Ele passou a construir a base paulista pró-bolsonaro com mais duas pessoas até as eleições de 2018. "Trabalhamos muito pesado nessa campanha, apenas pela importância do trabalho de ajudar nessa eleição. Foi um ano muito intenso, fui tesoureiro do PSL em São Paulo, um dos únicos cuidando da campanha e que não era candidato. Fizemos um trabalho muito marcante", diz o advogado. Ele ficou tão próximo de Bolsonaro que, quando o presidente foi esfaqueado, durante um comício em Juiz de Fora, em setembro de 2018, foi até a cidade pilotando seu monomotor, levando o médico-cirurgião Antônio Macedo para examinar o então candidato, na Santa Casa. A dupla convenceu a família a levá-lo para o hospital Albert Einstein. 

Metta participou ainda da transição governamental apoiando Marcos Cintra na parte tributária. Meses depois da eleição, foi para o governo como assessor especial do ministro Abraham Weintraub, de quem era próximo. Metta deixou o governo pouco depois da demissão do ministro, mas com uma visão clara de que a estrutura federal não permitiria a mudança idealizada pela cúpula de Bolsonaro em pouco tempo. "Aprendi muito, sobre os desafios da educação, de como a burocracia acaba dificultando mesmo o acesso à educação. É um emaranhado de normas, que realmente desafia demais. Vimos estruturas enormes para potencializar desvios e tínhamos uma dificuldade enorme de mexer nelas. Não falo só em desvios de recursos, mas também de finalidade mesmo. Estruturas que autorizavam cursos, julgavam cursos fomentavam cursos. Tudo em um sistema fechado. Vimos que o Ministério era bastante capturado por setores de iniciativa privada e pública", explica ele.

Entre os principais desafios a serem mudados, ele aponta a destinação de boa parte do orçamento para cursos de graduação e pós graduação, e pouquíssimo investimento na base.

"Estamos numa pirâmide totalmente invertida, enquanto deveríamos investir muito mais na educação infantil, na pré-escola, a gente está gastando o recurso quando a pessoa já esta velha. O sistema burocrático trava muito isso", aponta.

Ele diz que mesmo os investimentos nas universidades não conseguem contemplar o que deveriam, outro desafio dentro da burocracia nacional. "As universidades consomem 90% do orçamento só com a folha de pagamento. É algo muito difícil de mexer. Despesas que crescem 5 a 6% ao ano acima da inflação e sem perspectiva de melhora em curto período de tempo", conta ele.

Com a saída do cargo, ele diz que segue acompanhando os desdobramentos das decisões sobre educação e mostra preocupação com os resultados da pandemia. "Demos autonomia para cada um tomar sua decisão. Infelizmente, o Brasil foi o país com o menor número de dias de aulas em 2020. Defendemos que as decisões deveriam ser na linha do mais Brasil e menos Brasília, porém com responsabilização dos entes federativos", conclui.