Pesquisa aponta que mesmo crianças têm sofrido com o problema nesse retorno à normalidade

Ansiedade, depressão e outros problemas relativos à saúde mental tem sido assunto frequente desde o início da pandemia e, com o retorno às atividades presenciais, nem mesmo crianças e adolescentes parecem estar livres do problema. Psicóloga especialista no tema e com consultório em Santo André, Carla Ferreira, diz que os casos de pessoas que sentem dificuldades nesse retorno são comuns. Para os adultos, a insegurança do ambiente é o que mais pesa.

"Acredito que ansiedade está na questão do retorno: como vou voltar, quando vou voltar. Porque a gente sabe que muitos já retornaram e sabemos que hoje há muitas empresas que não conseguem nem oferecer refeitórios adequados para seus funcionários, muito menos EPIs (equipamentos de proteção), máscaras, álcool em gel. As escolas públicas são o exemplo. Possuem diversas dificuldades em fornecer o básico para a higiene pessoal dos seus alunos e professores - fica essa ansiedade de como seguir esse protocolo de segurança para retomada das atividades. Isso gera o pânico, a dúvida", diz.

Já na outra ponta, crianças e adolescentes sentem dificuldade em se desconectar das telas e voltar à convivência social. Pesquisa realizada pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) mostra que esses problemas estão relacionados ao consumo excessivo de telas (celulares, televisão e computadores) e à alterações na rotina, como a inversão do padrão do sono.

O estudo mostra que 10,5% dos alunos do 9º ano da rede pública da Grande São Paulo, entre 29 de outubro e 14 de dezembro de 2020, apresentaram triagem positiva para depressão e 47,5% para ansiedade, além de meninas serem as mais atingidas. "Temos visto uma crescente demanda de apoio psicológico para crianças e adolescentes que voltam com comportamentos diferentes: maior tristeza, déficit de atenção, dificuldade de conviver sem essa proximidade de abraçar, beijar. Cada um precisa de um atendimento específico e de auxílio psicológico para superar essa barreira", diz.

Sem uma rotina escolar ou saídas que possibilitem relações sociais com outras pessoas, os pesquisadores concluem que a promoção da saúde mental infantil é um trabalho que deve ser implementado nas escolas, especialmente com a volta às aulas.

"Outra dica é não achar que um mês é possível absorver tudo o que se perdeu no último ano e meio. Isso não vai acontecer e só vai gerar mais frustração. É humanamente impossível tentar colocar em dia todo esse conteúdo, absorver isso. A dica aos estudantes é pé no freio e cautela", afirma Carla. Por fim, ela salienta que é fundamental que empresas e escolas estejam preparadas, com serviços de psicólogos disponíveis, para auxiliar nesse retorno de maneira preventiva. "Muitos perderam familiares e voltam enlutados. Além disso, as empresas e escolas têm de estar atentas ao receber essa pessoa de volta pois voltam diferentes, como novos indivíduos, dentro de uma nova normalidade. Estamos vivendo uma situação nunca vivida e temos de estar cientes disso: empresas e escolas - preciso redobrar atenções em comportamentos que não sejam do normal das pessoas. E como sabemos que a prevenção é o melhor remédio, é preciso garantias preventivas. Dar esse apoio psicológico para essas pessoas", afirma.

Carla reforça que a ansiedade e a síndrome do pânico, assim como a depressão, tornam difícil a realização de atividades simples do dia a dia. Neste caso, está na hora de procurar ajuda especializada.