Paula Cabrera

Voltar ao trabalho pós maternidade é um dos maiores desafios na vida da nova mãe. Depois de passar meses ligada quase o tempo todo nas necessidades do bebê, o medo e a insegurança de deixá-lo aos cuidados de outra pessoa é avassalador. É unanimidade dizer que essa sensação de culpa vai bater em todas as mães, segundo a neuropsicóloga Luciana Costa Xavier Mantero, especialista em desenvolvimento infantil.
"Sentir culpa é um processo normal de quem esperou e desejou muito ser mãe. E essa culpa nos segue durante um bom tempo ao longo da maternidade. Qualquer sinal de problema com a criança- seja de aprendizagem ou de ficar doente- a mãe vai se culpar. Mas temos de ter em mente um horizonte maior do que esses primeiros dois anos, que nos consome muito. No todo, é super importante para a criança essa independência emocional", afirma ela.

Luciana explica que nos primeiros dois anos o bebê está ainda descobrindo seu lugar no mundo. É um processo em que ele observa, imita, testa limites e a possibilidade de ter um ambiente de convivência com outras crianças e outros adultos aumenta seu repertório e auxilia na sua saúde mental. "Em mais de 20 anos de atendimento, posso dizer que filhos de mães que trabalham fora podem até ter um desenvolvimento mais saudável em termos emocionais, pela diminuição de expectativas e sobrecarga sobre a criança. Claro, sem perder de vista o equilíbrio entre dedicar-se ao trabalho e a criança", diz.
A assistente técnica administrativa, Teresinha Alves, 43 anos, vive neste momento a dor e a delícia de voltar ao trabalho. Mãe do pequeno Benjamim, que completa sete meses neste mês, ela voltou ao trabalho na última semana e diz ainda que a culpa de se sentir acolhida e feliz no ambiente de trabalho também pesa. "É ótimo sair um pouco dessa rotina de banho, fralda, mamadeiras, mas a culpa de curtir esse momento também é terrível. A gente se divide entre o medo de ele não estar bem com a felicidade de a gente estar. É muito complicado", afirma ela, que neste primeiro momento optou por deixar Benjamim com a vovó Lourdes.

Luciana diz que essa dualidade também acerta a maioria das mães, mas costuma passar quando percebemos que os bebês estão bem adaptados nessa nova rotina. "É importante para mulher lembrar que tem outras facetas além de mãe. Nossa individualidade se perde muito nesse começo de maternidade e voltar ao trabalho é um start para recuperar também a relação de casal com o marido, adequar expectativas da nova vida. É saudável para todos", diz.
A coordenadora de suprimentos, Luana Bozzatto de Faria, 35, diz que a angústia da separação demorou dois meses para melhorar. Ela conta que chorava todos os dias ao deixar o filho Theo na escola aos cinco meses. Hoje com dois anos, Theo ainda deu uma boa canseira na mãe ao pegar doenças como bronquiolite, pneumonia, otites de repetição e H1N1. "Com o tempo a gente vai se adaptando a nova rotina, como acontece com todas as mudanças de nossa vida. Hoje, vejo que para ele foi a melhor decisão. Quem sofreu mais fui eu. O período de adaptação nestas escolinhas, de fato, é para a mãe, não para o bebê", diz.

A terapeuta lembra que pegar pequenas doenças também fazem parte do amadurecimento imunológico do bebê, mas diz que a culpa bate forte nesse momentos. Quando acontecer, Luciana aconselha respirar fundo e fazer uma lista de prós e contras sobre a decisão de ser mãe e trabalhar fora. "Somos espelho e a criança vai admirar a força dessa mãe quando estiver maior para entender isso, já com cerca de quatro anos. Nesse horizonte mais próximo, é preciso pensar que o dinheiro é importante para o orçamento e se apegar no fato de que o bebê está bem. Nós sofremos mais do que eles", conclui.

Sobre a neuropsicóloga:
Luciana Costa Xavier Mantero
Formada pela universidade Metodista em psicologia há 23 anos. CRP 51507-8
Especialista em neuropsicologia há 11 anos, pelo Instituto de Psicologia Aplicada a Formação (IPAF), onde também já atuou como professora de pós graduação no curso de neuropsicologia.
Pós graduanda em ABA pelo CBI of Miami.
Especialista em atrasos de desenvolvimento e intervenção precoce.
Atua na prática clínica há 23 anos nos setores de psicologia, neuropsicologia e direção clínica da equipe multidisciplinar da Clínica Mais Saúde.
Atua em diagnóstico e intervenção assim como coordena a equipe e supervisiona os profissionais.
Ministra treinamentos e palestras para públicos que vão desde profissionais da área até pais, familiares e educadores.


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