Conep faz a avaliação de como estudos conduzem e acompanham voluntários e diz que Butantan entregou todos os documentos para confirmar que imunização não teria qualquer ligação com morte

Das agências

Apesar da decisão da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) de paralisar o estudo da coronavac por um "evento adverso" grave, a entidade responsável pela avaliação ética de pesquisas envolvendo seres humanos no Brasil, a Conep (Comissão Nacional de Ética em Pesquisa) recomendou a continuidade dos testes. Nesta terça-feira (10/11) veio à público a morte, por suicídio, de um participante do estudo, que teria sido comunicada na última sexta-feira (6/11) pelo Instituto Butantan aos órgãos. O voluntário tinha tomado a vacina a quase 30 dias e, segundo o Conep, teria ficado claro que a morte não teria qualquer relação com a imunização.
Para que uma pesquisa científica seja feita no Brasil, é preciso de autorização tanto da Anvisa quanto da Conep, órgão ligado ao CNS (Conselho Nacional de Saúde), sob o guarda-chuva do Ministério da Saúde. Enquanto a Conep tem por foco proteger quem participa da pesquisa, a Anvisa busca salvaguardar quem vai consumir o produto pesquisado. Sem a aprovação de uma entidade ou de outra, os testes não podem continuar.
Assim como a Anvisa, a Conep foi comunicada na última sexta-feira sobre a morte de um voluntário de 32 anos. Ao receber a informação, a Conep pediu uma audiência com representantes do Instituto Butantan, o que ocorreu ainda na sexta por videoconferência.
Entre os documentos apresentados, há uma série de exames relacionados a um check-up feito recentemente por iniciativa do voluntário que indicaria que sua saúde estava em bom estado. Além disso, passaram-se 24 dias entre a data em que o voluntário tomou a segunda dose da vacina e sua morte, em 29 de outubro.
A morte que causou a suspensão dos testes da vacina CoronaVac foi o suicídio do voluntário, segundo o UOL noticiou no início dessa tarde, com o boletim de ocorrência. O boletim de ocorrência, obtido pela reportagem, registra o caso como "suicídio consumado".
A suspensão dos testes causou surpresa e irritação em autoridades de saúde em São Paulo, que classificam a decisão de "desleal".
O descontentamento existe porque os pesquisadores não relacionam o suicídio a qualquer efeito adverso relacionado à pesquisa.
Eles afirmam que o caso vinha sendo tratado de forma técnica por cientistas da Anvisa, e que por isso estranham a mudança repentina de comportamento. A avaliação é de que a notícia da morte chegou ao conhecimento de pessoas com interesse não científicos, que teriam usado o caso para criar um fato político.
No início da tarde de hoje, o diretor-presidente da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), Antônio Barra Torres, garantiu que a decisão do órgão foi técnica e que os documentos enviados pelo Instituto Butantan sobre o "evento adverso" estavam "incompletos" e "insuficientes".

DECISÃO REPERCUTE NO MINDO

A suspensão do estudo no Brasil repercutiu no mundo e pegou muito mal em boa parte dos países. A empresa Sinovac, responsável pela vacina, se mostrou irritada pois a repercussão sobre seu produto ganhou as midias internacionais e, segundo ela, sem qualquer comprovação científica de efetivos problemas. Diante dos desdobramentos do caso nesta terça-feira, países que participam do estudo clínico o mantiveram em funcionamento, descredenciando a decisão nacional e suas motivações.