Prefeitos da região são coordenadores das campanhas de Eduardo Leite e Doria; clima segue tenso entre eles

Das agências

O ABC virou o centro da panela de pressão que se tornou as prévias para a escolha do candidato a presidente pelo PSDB. A divisão entre partidários de João Doria (PSDB) e Eduardo Leite (PSDB) passa diretamente pelas cidades de São Bernardo do Campo e Santo André e, respectivamente, pelas mesas do prefeito Paulo Serra e de Orlando Morando.
Morando e Serra vieram do mesmo grupo político sao compadres -- Serra foi padrinho de casamento de Morando -- e foram eleitos prefeitos na leva que tornou o tucanato forte no ABC: naquele ano o partido abocanhou boa parte das cidades da região e carimbou Doria na prefeitura da capital. Ambos se reelegeram em primeiro turno em 2020, mas a parceria acabou ainda no primeiro mandato. O racha entre Doria e Leite no ABC teria como pano de fundo a rivalidade local antiga entre Morando e Serra, além da identificação pessoal de um e outro com seus candidatos nas prévias.
Morando, aliado de primeira hora de Doria deixa clara sua vontade de alcar  voos maiores. Na presidência do Consórcio foi achacado por oitros prefeitos que não gostam de seu perfil incisivo. Na época, Diadema e Mauá ameaçaram debandar do bloco - o perfil casa perfeitamente com a figura de Doria, que não costuma ter meio nas rodas políticas e nem com eleitores.
Ja Serra tem um perfil conciliador e costuma ser procurado na hora de colocar panos quentes nas rusgas locais. Enquanto a panela de pressão política quase explodiu com a proximidade de Claudinho da Geladeira com o grupo político de Morando, Serra apaziguou o descontentamento causado pela proximidade de rivais políticos do prefeito Clovis Volpi (PL) em seu mandato. O lado conciliador pesou na hora de manter Ribeirão e Rio Grande no bloco.
O racha entre os prefeitos se tornou claro no momento em que Santo André se tornou a base de Leite. Serra é responsável por coordenar as articulações e os eventos do governador gaúcho no estado e conseguiu expandir os apoios para os diretórios de São José dos Campos e Jacareí, inclusive com voto declarado de um deputado federal paulista, Eduardo Cury. Os demais sete deputados do estado devem votar em Doria. Na região, cidades de base forte de Morando penderam para Leite, como é o caso de Ribeirão Pires e Diadema. Em Mauá, o vereador Eugênio Rufino confirmou apoio ao governador gaúcho. Aliados de Leite calculam que ele pode ter até 25% dos votos no estado.
Já os estrategistas de Doria veem uma vitória praticamente unânime para o governador paulista, que têm mais dois prefeitos, além de Morando, atuando em sua coordenação no estado –Duarte Nogueira, de Ribeirão Preto, e Luiz Fernando Machado, de Jundiaí.
Neste mês, Doria divulgou uma carta de apoio com a assinatura de 230 de 237 prefeitos tucanos paulistas e 120 de 147 vice-prefeitos tucanos paulistas. No entanto, há dúvida se 51 desses prefeitos e 41 desses vice-prefeitos poderão votar nas prévias, já que aliados de Leite acusam o diretório paulista de filiá-los após a data limite permitida.
Morando busca ainda espaço para ser candidato a vice-governador na chapa de Rodrigo Garcia em 2022. O desentendimento de ambos passa ainda pela decisão de Serra de lançar sua mulher, Ana Carolina, para uma vaga na Assembleia Legislativam a decisão pode ofiscar os votos da deputada Carla Morando, esposa de Morando, na região. na
Serra, ao contrário de Morando, se distanciou de Doria e diz ter mais identidade com o PSDB raiz, do resgate da social-democracia e da defesa do legado tucano, do que com o novo PSDB defendido pelo governador paulista.
O prefeito de Santo André diz ter escolhido Leite por ter um perfil semelhante ao do gaúcho e também por uma questão pragmática. Para ele, sem Leite, o PSDB não vai conseguir se apresentar como uma terceira via possível.
Na avaliação de Morando, que defende Doria, o país precisa de um "governo com seriedade, respeito e equilíbrio". Neste contexto, o governador João Doria reuniria maior experiência para uma gestão equilibrada e que atenda aos anseios da nossa sociedade.
A disputa está apenas começando e o fogo amigo deve seguir queimando alto na região pelo próximo ano.

Eduardo Leite e Doria posam juntos em foto do governador de São Paulo