BLW, Alimentação Participativa, Tradicional ou BLISS. Quando pensamos em introdução alimentar, os métodos para apresentar comida ao bebê podem parecer o maior dos problemas, mas está bem longe disso.
Uma pesquisa feita pelo Ministério da Saúde trouxe números alarmantes sobre como o consumo de alimentos ultraprocessados é cada vez mais precoce no Brasil. Crianças com menos de dois anos chegam a ter praticamente a metade da sua alimentação diária composta por produtos industrializados. São farináceos, bebidas lácteas, refrigerantes, biscoitos. E a conta já está chegando- três em cada dez crianças atendidas pelo SUS está acima do peso para a idade.
Apesar de a orientação da OMS (Organização Mundial de Saúde) ser de aleitamento materno exclusivo até os seis meses - e se possível até os dois anos-   os dados do governo brasileiro mostram que duas em cada três crianças com menos de seis meses de idade já recebem algum outro tipo de leite, em geral acrescido de alguma farinha e açúcar. E apenas uma em três continua recebendo leite materno até os dois anos. Nesta faixa etária, 49% já se alimentam também de sucos adoçados, refrigerantes e biscoitos. O recomendado é zero açúcar até essa idade.
Pode até parecer militância de mãe extremista- como eu já ouvi em inúmeras ocasiões em festas de família e reuniões de amigos- mas a verdade é que até os dois anos as crianças estão ainda desenvolvendo hábitos alimentares e órgãos como o pâncreas, o fígado, o rim, o estômago e o intestino, estão se adaptando a receber alimentos e processá-los de acordo com a necessidade. Altas taxas de açúcar, por exemplo, podem causar desgaste no pâncreas (como dar pequenos choques mesmo) e aumentar as chances de diabetes no futuro.
É como ensinar a andar - neste processo, você dá a mão, auxilia e incentiva, não coloca a criança num patins e empurra morro abaixo rezando para dar certo. A alimentação de ultraprocessados desde o início da vida pode significar exatamente isso.
Domingo (11/11), na palestra em SP, o pediatra espanhol Carlos Gonzalez afirmou que hoje supermercados vendem de tudo, menos comida de verdade. A crítica aos ultraprocessados foi severa. "Não se deve ensinar seu filho a comer de tudo, mas não comer de quase nada. Hoje, come-se apenas porcarias", afirmou ele, que completou que o ideal é que apenas 10% das dietas infantis incluam açúcar. O suco também foi apontado como vilão "é apenas água e açúcar. As propriedades da fruta se perdem nessa apresentação", disse ele sobre suco natural. Imagina os processados.
Nutricionista que acompanha minha filha desde os seis meses, a especialista em nutrição materno infantil Renata Alves costuma atender mães nessa fase com consultas de uma hora e meia e muitas explicações. Entre as que mais me marcaram foi o fato de o consumo de açúcar em bebês potencializar em até cinco vezes as chances de diabetes e obesidade infantil. Já o alto consumo de sal também pode ocasionar problemas arteriais no futuro. "É preciso sempre calma na apresentação dos pratos, cuidados no armazenamento e paciência na hora da refeição. É uma fase nova para o  bebê.  A decisão dos alimentos apresentados será fundamental para garantir uma boa relação com a comida no futuro", diz ela.
O cuidado para não comprar a ideia de produtos low carb e zero açúcar também cabe aqui. Lembro que na consulta de dez meses contei a ela que numa viagem me rendi às bolachas de maizena, já que minha filha costuma recusar alimentação em ambientes estranhos, e contei feliz ter achado uma marca com zero açúcar. Ela buscou na hora dados na internet e foi taxativa. "Esse produto tem mais sódio do que a bolacha normal. Pode parecer inofensivo, mas é apenas glúten, farinha e açúcar. Nem sempre o que está na embalagem é um produto que realmente tenha propriedades como se vende. É preciso ler o rótulo", disse. E na sequência me enviou uma série de opções para esse caso: biscoito de arroz, de tapioca, de polvilho. A marca fhom é referência nesses produtos.
Segundo a pesquisa do Ministério, a oferta de ultraprocessados acontece porque muitas mães precisam trabalhar e não tem disponibilidade para cozinhar, além do alto preço dos alimentos mais saudáveis em comparação aos ultraprocessados.

Para quem corre a semana toda, a dica da nutricionista é comprar uma cuscuzeira (panela que ferve a água embaixo e solta vapor no cesto logo em cima) e colocar todos os legumes e tubérculos para cozinhar juntos. Faça para semana ou até quinze dias. Depois, amasse tudo e congele em forminhas de gelo com tampa. "Cada pedrinha é uma porção. No começo, amasse bem, depois de sete meses, vá deixando pedaços maiores até entregar inteiro para o bebê", diz. A partir do primeiro ano, o bebê já pode entrar na rotina familiar, se a família topar reduzir o consumo de sal e ofertar frutas na sobremesa. E para bebês a partir dessa idade, ela é explica que uma batata frita, num passeio da família, por exemplo, pode passar. "Sempre exceção. Nunca a regra", conclui.