Paula Cabrera

A igualdade entre gêneros na vida pública ainda é um sonho distante. No Dia da Mulher, a maioria dos partidos confirmou ao JNC que preencher a cota de candidatas para as eleições de 2020 tem sido um desafio.
Desde a reforma política, em 2012, os partidos devem ter 30% de mulheres candidatas. Em Mauá, o número máximo de candidatos é de 35, isso equivale a 11 mulheres.
"É uma dificuldade de todos os partidos. Na Câmara Federal, propus manter cotas, mas não tirar os homens, caso haja mais candidatos. É uma cota muito restritiva e as mulheres, muitas vezes, não estão dispostas a ingressar em uma eleição. Há uma série de situações, mas a realidade da mulher é de muito mais tarefas. Além da vida profissional, sabemos que são as mulheres as principais responsáveis por manter casa e família em funcionamento. Então, participar de uma eleição, que engloba passar muito tempo fora, nem sempre está nos planos daquela mulher nesse momento. Isso não significa que não haja interesse, apenas dificuldades ainda em fazer os planos políticos se encaixarem à realidade dela", diz a deputada federal Renata Abreu, presidente nacional do Podemos. Grávida de quase nove meses, ela diz que ainda há muitas pessoas que não entendem sua agenda política tão próxima de virar mãe. "Parece que as pessoas querem que eu fique em casa. Eu já falei que vou trabalhar, e viajar pelo Brasil, até meu filho nascer", disse.
O Podemos de Mauá é um dos partidos que batalham para fechar a chapa feminina. Eles tem oito candidatas, namoram um nono nome, num total 11 necessários. "Estamos construindo isso, mas temos uma boa cota. As mulheres tem uma carga grande que acaba prejudicando essao opção de política", diz Evandro da Egregora, presidente municipal da sigla.
O juiz João Veríssimo (PSD), dirigente do PSD em Mauá, diz que o correto seria garantir uma cota de mulheres efetivamente nos cargos, não apenas na eleição. "Existe um machismo estruturado em todas as esferas. No judiciário, de 300 desembargadores, 14 são mulheres. É preciso cota para eleitos e não para candidatos. Com essa política atual, mantemos a mulher fora da vida pública, com raríssimas exceções", afirmou.
PL, DEM, PDT, PTB e Avante também confirmaram ao JNC dificuldades para preencher as cotas. "Acaba que muitas mulheres competem no lugar do marido, para que consigamos o número. Tem também muita gente que dá o nome pela sigla, mas não leva a campanha adiante", disse um dirigente que preferiu não se identificar. As candidaturas "laranjas" são proibidas, mas tem sido recorrente desde a aplicação da cota.
Neste ano, a entrega de verba partidária está ligada diretamente à proporção de mulheres que concorrerão aos cargos eletivos. Uma preocupação a mais para os partidos.

Congresso tem projeto para aumentar cota de eleitas

Desde 2015 há uma PEC (proposta de emenda à Constituição) que reserva 10% das cadeiras para mulheres nas Câmaras municipais, estaduais e federais. A ideia é que, caso no fim das eleições não haja representatividade de 10% de mulheres no total de eleitos, cada partido substitua o homem menos votado eleito pela mulher mais votada que não conquistou a vaga.
A proposta estabelece que a cota mínima aumentará de forma gradativa. O percentual será de 10% das cadeiras na primeira legislatura, 12% na segunda legislatura e 16% na terceira legislatura.
Em Mauá por exemplo, seriam necessárias três mulheres eleitas em um total de 21 vereadores, na primeira legislatura.
A proposta está parada na pauta de votações - já tramitou em todas as comissões - sem perspectiva de ser avaliada tão cedo.
"Tem sido uma batalha nossa no Congresso. Da última vez, perdemos por des dez votos. Tenho esperança de que consigamos aprovar isso. Mas ainda é uma luta complicada por igualdade", conclui a deputada federal Renata Abreu.