Um imóvel abandonado no centro de Mauá foi ocupado nesta semana pelo Movimento de Mulheres Olga Benario, que batizou o local como Ocupação Helenira Preta Vive: por Gabriela Mariel Silvério. A ação marca a 28ª ocupação organizada pelo grupo e homenageia Gabriela Mariel Silvério, militante do movimento, assassinada no último domingo no bairro Paranavaí, em Mauá.

Gabriela era mãe solo, pessoa com deficiência, trabalhadora em regime de escala 6x1 e atuava ativamente na organização de mulheres na cidade. Ela coordenou a Ocupação da Mulher Operária Alceri Maria Gomes da Silva, em São Caetano do Sul, e teve papel de destaque nas mobilizações por uma Delegacia da Mulher com atendimento 24 horas em Mauá, além de iniciativas de apoio a vítimas de violência doméstica.

O assassinato de Gabriela, atribuído ao seu companheiro, foi o sexto caso de feminicídio registrado na região do ABC Paulista apenas em 2025, número que representa um aumento de 50% em relação ao mesmo período do ano anterior.

A ocupação também chama atenção para as dificuldades enfrentadas por mulheres em situação de vulnerabilidade. Gabriela estava entre os nomes previstos para serem atendidos pelo programa habitacional Minha Casa, Minha Vida Entidades, cujas obras em Mauá ainda não foram iniciadas. Segundo o IBGE, famílias chefiadas por mulheres representam mais de um terço das residências alugadas no país, uma realidade que expõe ainda mais mulheres à insegurança habitacional e econômica.

A ação do movimento também critica a reintegração de posse da ocupação Alceri Maria Gomes da Silva, em São Caetano, da qual Gabriela foi coordenadora. Para as integrantes do grupo, a falta de moradia digna pode ter sido determinante para a vulnerabilidade que resultou no crime.

Além da moradia, o movimento pede que seja garantido amparo à filha de Gabriela, com uma pensão que assegure condições básicas de sobrevivência. As reivindicações incluem ainda a instalação de uma Delegacia da Mulher com atendimento 24 horas em Mauá — projeto pelo qual Gabriela coletou centenas de assinaturas em abaixo-assinado.

De acordo com o movimento, o imóvel agora ocupado havia sido prometido pelo poder público local para projetos voltados à mulher, com previsão de entrega em março deste ano. “Gabriela poderia estar morando na nossa casa, que deveria ter sido inaugurada no último 8 de março, e talvez estaria viva ainda”, afirma Júlia Calchi, amiga de Gabriela e uma das coordenadoras da ocupação.

A nova ocupação é descrita pelas organizadoras como um ato por justiça e sobrevivência. “Ocupamos pela vida das mulheres. Exigimos justiça por nossa companheira Gabriela Mariel. Ocupamos para que mais mulheres, que vivem como Gabriela, possam lutar para sair da miséria, do aluguel e de relacionamentos abusivos”, disse Maria Clara, uma das coordenadoras do movimento.