Paula Cabrera

A amamentação e a volta ao trabalho pode ser uma das jornadas mais extenuantes na vida das novas mães. É comum sentar para conversar com as amigas e ouvir 'causos' sobre as dificuldades que vão desde quantidade de leite ordenhado, variando por falta de locais apropriados para a retirada e também para a estocagem desse leite.
Se antes a falta de informação era empecilho, hoje, a falta de BOA informação e os julgamentos no ambiente de trabalho e da família podem prejudicar esse processo.
Mas a verdade é que seguir com o aleitamento é benéfico para o bebê. Um estudo publicado no American Journal of Health Promotion mostra que mães que amamentam se abstêm menos do trabalho do que as que dão fórmula infantil aos filhos. Isso porque os problemas de saúde das crianças alimentadas com leite materno costumam ser menos frequentes e graves.
A jornalista e consultora de amamentação Giovanna Balogh, diz que optou por fazer a formação depois de ter sentido na pele as dificuldades da amamentação na volta ao trabalho. Ela que foi mãe pela primeira vez há dez anos, precisava fazer a ordenha no banheiro da empresa, sob olhares de críticas dos chefes. "Ninguém questiona um colega que sai para fumar, mas as vezes uma mãe sai por meia hora para ordenhar e é quesitonada porque não dá logo o leite artificial para criança e para logo com isso. E ouvia piadinhas também. Mas fiz o melhor que podia. Do mais velho, tirei por onze meses, do meu segundo filho, por um ano", conta ela, que hoje é dona do canal Mães de Peito e dá palestras sobre amamentação e volta ao trabalho.
A administradora Fabiana Novato Castilho, 34 anos, vive neste momento a tensão de voltar ao trabalho e ordenhar leite para seguir a amamentação exclusiva do seu filho Benicio, de seis meses. "Eu acabei de voltar e sigo em AME (Amamentação materna exclusiva). É uma nova doação, se planejar para ordenhar além de oferecer o peito, o receio de conseguir o leite suficiente, o medo de julgamentos no trabalho. Ordenho duas vezes durante o expediente e na hora do almoço saio para amamentá-lo", diz ela.
Para manter o estoque alto, ela ordenha durante a madrugada e usa a bomba elétrica para garantir melhor retorno. "É mais rápido e ajuda mais do que a manual, mas deixa o bico do seio sensível", diz. Ela conta que tem conseguido manter o estoque de uma semana já pronto. "Derramei 100 ml do leite ordenhado semana passada e chorei mesmo, fiquei bem chateada", diz ela.


Para as mães que vivem este momento, cada gota conta. É comum não conseguir ordenhar mais do que 60 ml quando a mãe começa a usar a bomba e o pânico de não ter leite suficiente assusta. Giovanna recomenda que para evitar esses medos, o planejamento comece três meses antes. "É preciso testar bomba, as formas que deve oferecer o leite ao bebê e ai o estoque efetivo, você começa de 20 a 15 dias antes da volta ao trabalho." Se o tempo de locomoção entre a casa e o emprego for grande, ela diz para a mãe começar até mesmo antes.
Para melhorar a ordenha, ela recomenda a locação de bomba dupla - que extrai leite das duas mamas ao mesmo tempo. "Uma técnica nesse começo é colocar o bebê num peito e tirar do outro, em seguida. Seu corpo começa a entender que precisa produzir mais leite. Tirar a noite, quando o bebê dá uma estirada de mais horas de sono, também ajuda, se você acorda com o peito cheio. Toda a oportunidade que a mulher tiver antes de voltar ao
trabalho, fazer a ordenha dela, é o melhor para o corpo acostumar", afirma.
No ambiente de trabalho, ela diz que o melhor é tentar duas pausas para tirar o leite, preferencialmente, no mesmo horário em que o bebê costuma mamar. "É preciso planejamento porque depende de um treinamento muito antecipado e também muito apoio. Tanto do parceiro quanto da família e principalmente da empresa, onde ela vai trabalhar. Que ela encontre um cantinho para fazer essa ordenha, que tenha higiene, que ela possa ficar tranquila e se dedicar um pouco a isso", diz.
Para armazenar o leite, tanto é recomendado sacos quanto vidro e, caso uma ordenhada nao seja o suficiente para suprir a mamada, é possível colocar o leite de outras extrações no mesmo pote. A data que vale é da primeira ordenha.
Para quem pretende seguir com a amamentação prolongada- a recomendação da OMS (Organização Mundial de Saúde) é que os bebês sigam mamando até os dois anos- a bancária Anelise Monteverde é o exemplo de que é possível. Sua filha Lis tem um ano e sete meses e segue firme e forte no peito. Ela diz que o começo, no entanto, não foi fácil. "A Lis não comia nem tomava o leite enquanto eu estava fora, fez greve de fome mesmo. Isso porque estava em casa com minha mãe e o pai dela. Tentamos todos os tipos de copinhos e bicos de mamadeira, mas ela não aceitava nada, eu chegava e era tetê o tempo todo. Entendi que ela precisava suprir minha ausência e ficava dedicada a ela em casa. Aos poucos ela foi entendendo que eu voltava e que o tetê também. Daí começou a comer e aceitar o leite que eu deixava no copinho de bico rígido", diz ela, que segue em livre demanda quando está em casa com a bebê e aderiu à cama compartilhada para suprir as três mamadas que a pequena começou a pedir na madrugada.

Anelise e Lis venceram os desafios e seguem firmes na amamentação


Giovanna diz que a chave do sucesso para manter a amamentação é exatamente evitar a mamadeira, e consequentemente a confusão de bicos ou de fluxo. "Tentar colher dosadora, copinho,seringa, copo de treinamento, tudo depende da idade do bebê e quando a mãe vai voltar a trabalhar. Pode ser também copo com canudo, copo com bico rígido. Coisas que ela encontra pra evitar a mamadeira. Claro que é possível dar mamadeira e o bebê seguir no aleitamento, mas se é possível evitar isso, melhor. No meu site tem vídeos e fotos que é possível ver as técnicas de cada alternativa. Tem também sobre quanto leite deixar e formas de fazer ordenha", afirma.
Neste período, a rede de apoio, a ajuda do parceiro e da família também são fundamentais para garantir o sucesso. E se vale alguma coisa, a maioria das mães passará por isso e pensará em ceder e dar a fórmula, mas o tempo passa rápido e logo as ordenhas não serão mais necessárias. "Essa rotina é complicada, mas é só até o bebê completar um ano. Depois não é preciso mais ordenhar", conclui Giovanna.