Você espera nove meses, se prepara, monta tudo para chegada do bebê, mas quando entregam aquele pacotinho rosado na sua mão, a emoção que chega não é sempre a de alegria extrema. A maioria das mães sentem um misto de medo, insegurança e uma vontade de chorar e sumir absurda. É o chamado baby blues, período em que os hormônios ainda estão em ebulição no corpo da mãe e que causam uma montanha russa de emoções.

Essas alterações de humor são decorrentes de alterações hormonais abruptas que acontecem após a eliminação da placenta e da expulsão o bebê. O descolamento da placenta dentro do útero faz com que toda essa comunicação hormonal da mulher com o bebê se perca e o corpo reage. Na prática, todos os hormônios enviados à placenta são desconectados de uma só vez e o corpo leva um tempo para se rearranjar. O período para que o corpo se readeque varia de mulher para mulher e depende da rotina de cada mãe e cada bebê. A privação de sono não costuma ajudar. "É um período em que tudo é muito novo e acordar a noite algumas vezes para amamentar o bebê acaba fazendo com que a reposição desses hormônios levem um pouco mais de tempo", explica a psicóloga Camila Menella.

Ela explica que a insegurança, os medos e os sentimentos confusos vão embora com o tempo, em média, 15 a 20 dias, mas é sempre bom  dividir com alguém suas preocupações. "Caso perceba que esses medos não cedem, é preciso procurar ajuda, pois pode ser depressão pós parto", diz. A depressão pós-parto, além do abatimento, pode ser confirmada porque a tristeza não passa, nem a sensação de agonia, que pode vir acompanhada de taquicardia, cansaço extremo e ataques de pânico.

Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), uma a cada quatro mães desenvolvem a depressão pós-parto, que atinge cerca de 25% das mães. O número de nascimentos em 2017 foi de 2,9 milhões, de acordo com dados do IBGE. Assim, podemos concluir que aproximadamente 740 mil mulheres que passaram pela situação.

Por isso, é muito importante desmistificar essa condição, para que essas mães recebam tratamento e apoio ao invés de julgamento. E foi pensando exatamente nisso que a psicóloga Carla Capuano criou os encontros de pós parto na A Casita, um espaço de convivência para grávidas e mães e clínica de referência na gestação e pós parto.

As reuniões acontecem toda quinta-feira, das 16h às 17h30 e custam R$ 30. Lá, uma roda de conversa com a terapeuta e o reconhecimento de que não se está sozinha ajudam a superar as inseguranças desse período. "É um momento onde podemos conversar, desabafar ou só ouvir. As mães podem vir desde o início do puerpério até quando preferirem", diz Carla.

A chef de cozinha Amanda dos Santos Crucillo Sudré, de 29 anos, começou a frequentar os encontros com 45 dias após o nascimento da filha e afirma que foi fundamental. "Me senti acolhida. É um espaço onde não julgam nossas decisões. Onde vemos que o puerpério é pesado para todo mundo e está tudo bem não se sentir feliz o tempo todo", afirma ela.
Foi lá também que Amanda criou uma rede de apoio para suportar os dias mais difíceis e onde recebeu carinho para assumir sua decisão de se tornar autônoma e ganhar mais tempo com sua bebê. "Ninguém olhou torto. Entenderam e apoiaram minha decisão de me dedicar à maternidade nesse momento", explica ela, que aceita encomendas de marmitas saudáveis e doces pelo Instagram @mandyscandies2.
A engenheira ambiental, Milena Souza Capanema, 35 anos, confirma que as rodas de conversa foram fundamentais para que ela entendesse que não estava só.  "Me sentia muito sozinha, muito perdida. Nos encontros, eu tinha esse apoio, que eu precisava tanto naquele momento. Voltei ao trabalho e não consigo mais acompanhar e sinto falta dessa identidade, de saber a importância do momento, da dificuldade, mas que ele vai passar e vai tudo entrar nos eixos. Foi fundamental para eu entender que estava num momento transformador."

Quem quiser participar dos encontros na Casita pode agendar pelo Whatsapp +55 11 99370-9821 . A casita fica na rua David Campista, 180, no Bairro Jardim, em Santo André.